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A resiliência do Corinthians evidenciou as fragilidades do Palmeiras.

danielambio1

Os clássicos subvertem a lógica e a própria ordem das coisas, pois sua essência muitas vezes é alheia ao campo. Mesmo superado em grande parte do jogo, o Corinthians de peito estufado do Allianz Parque. Já o Palmeiras, que provavelmente teve sua melhor atuação neste começo de temporada, por mais paradoxal que seja, teve expostas suas maiores deficiências.

Entre os méritos corinthianos, está o fato de ter conseguido resistir ao começo de jogo avassalador do rival. Se não decisivo, o fator local costuma ser altamente sugestivo em clássicos. Com menos da metade do primeiro tempo, o Palmeiras vencia por 1 a 0 e a impressão é que a contagem apenas havia começado. A virtude da equipe de Ramón Díaz é que estava sendo superada em campo, mas não na mentalidade: apesar dos entraves, o Corinthians queria jogar. Antes do empate, com gol de Yuri Alberto, já havia obrigado Weverton a outra defesa. Sofria, mas estava longe de se encolher.


No segundo tempo, o Corinthians mal havia conseguido visualizar a meta palmeirense quando Yuri Alberto, homem que viveu uma noite de extremos, acabou expulso por simulação de falta -- na verdade, segundo cartão amarelo; o primeiro, perdoado por dez entre dez corinthiano, havia levado quando deu uma voadora na bandeira de escanteio ao sacramentar o empate. Talvez o árbitro Raphael Claus pudesse ter vestido roupas de diplomata para deixar passar, mas a verdade é que a encenação foi tão acintosa, uma interpretação digna do pior filme pastelão já executado, que fica difícil condenar o árbitro.


E a partir deste exato momento ficaram evidentes os problemas palmeirenses -- aqueles motivos que há tempos fazem parte da torcida rosnar contra Abel Ferreira. Mesmo com vasto tempo contando com um jogador a mais em campo, o time palmeirense mostrou tanta criatividade quanto uma planilha de orçamento doméstico. Foram bolas cruzadas de todas as formas: da esquerda, da direita, da intermediária, por cima e por baixo, e até mesmo em arremesso lateral. 


Tanto cruzamento fez com que um dos maiores orçamentos do continente colocasse em campo um zagueiro das categorias de base para jogar como centroavante nos últimos minutos. E o desespero era tanto que mal conseguia tirar proveito da jornada pouco inspirada da zaga alvinegra -- o Corinthians todo, a situação exigia, era um imenso sistema defensivo. Eram dez em campo, mas pareciam cento e oitenta volantes.


Não por acaso, a jogada que poderia decretar um vitorioso no Dérbi surgiu da iniciativa individual de Estêvão, que sofreu e desperdiçou um penal aos 45 minutos do segundo tempo. E, neste momento, surgiu a figura aterradora de Hugo Souza, que fez uma defesa monstruosa para manter alguma justiça no desfecho -- se não pelo desempenho, aos menos pela postura. Time que empata um clássico com dez é um time em que se pode acreditar.


Ao fim e ao cabo, o clássico mostrou que o Palmeiras é uma equipe consolidada que novamente vai brigar por títulos, mas que tem questões táticas não muito simples para resolver, ao passo que o Corinthians, que também alimenta sua ambições está seguindo à risca a cartilha do começo de temporada: com classificação encaminhada no Paulistão, alterna seu time de olho na fase prévia da Libertadores. E, no Allianz Parque, comemorou não o ponto conquistado, mas o resultado e suas circunstâncias, mais expressivos do que mostra a tabela. Porque assim são os clássicos.

 
 
 

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